terça-feira, 31 de julho de 2012

Inquisição


Mesmo antes de oficializada a Inquisição, a mesma já se fazia presente em pleno tumulto da Idade Média, para Oeste através da Europa marchavam os chamados “demônios da heresia” arrebanhando adeptos e, segundo a Igreja Romana perturbando a Ordem. Mas...muitos desses heréticos eram simples clérigos e bem-intencionados que desejavam reformar o que consideravam excessivo dentro da Igreja, desejam a volta à piedade humilde de Jesus e seus discípulos, enquanto o Vaticano cercado de uma Pompa Imperial, tamanho poder político e “poder espiritual” gastava energia envolvendo-se em intrigas da corte.
Para os reformistas que consideravam a igreja dispensável e acreditavam que o Reino de Deus estaria no coração de cada um, a Igreja deu o seu recado: organizou o primeiro grande Tribunal Público Medieval contra a heresia em Orleans em 1022. Os réus? Evidentemente os reformistas que pregavam dizendo aos quatro cantos do mundo que para encontrar Deus não seria necessário um Templo de Pedras, muito menos a pompa Imperial da Igreja.
Em inúmeros Tribunais Civis e nas temidas cortes da Inquisição, a acusação era sinônimo de condenação e a condenação uma sentença de morte das mais variadas; flageladas e mutiladas pelos torturadores, a carne dilacerada e os ossos quebrados, as vítimas confessavam coisas absurdas; os que tivessem sorte seriam decapitados ou mortos de maneira relativamente mais humana antes que seus corpos fossem reduzidos a cinzas em fornos. E os azarados, queimados vivos e em fogueira de madeira verde para que a agonia se prolongasse.
Os inquisidores estavam ali enquanto o fogo martirizava a vítima, e incitavam-na, piedosamente, a aceitar os ensinamentos da "Igreja" em cujo nome ela estava sendo tratada tão "delicadamente" e tão "misericordiosamente". Para que houvesse um contraste com a tortura pelo fogo, também praticavam a da água:
“Amarrando as mãos e os pés do prisioneiro com uma corda trancada que lhe penetrava nas carnes e nos tendões, abriam a boca da vítima a força despejando dentro dela água até que chegasse ao ponto de sufocação ou confissão.”
Todas as imaginações bárbaras do espírito de Dante, quando descreveu o Inferno, foram incorporadas em máquinas reais que cauterizavam as carnes, esticavam os corpos e quebravam os ossos de todos aqueles que recusavam crer na "branda misericórdia" dos inquisidores.
Foi uma verdadeira passagem de terror, que durou aproximadamente 300 anos ceifando a vida de milhares de inocentes que não tiveram nem a opção de lutar pela sua própria liberdade de expressão. Esse frenesi de ódio e homicídio alastrou-se como fogo em diversos lugares incendiando a vida civilizada; França, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Áustria, Noruega, Finlândia, Suécia e por um breve período, saltaria o Atlântico inflamando até o Novo Mundo.
A seita denominada Waldenses – por causa do seu fundador, Peter Waldo, que traduzira o Novo Testamento sem autorização – foi alvo de perseguição por parte da Igreja mesmo antes de a Inquisição ter realmente começado. A Inquisição perseguiu os Waldenses, cujos pregadores itinerantes faziam votos de pobreza, por quase todos os cantos da Europa. Típico foi o destino dos adeptos que buscaram refúgio nos Alpes franceses, a inquisição cercou-os acusando-os injustamente de invocarem demônios, provocarem tempestades, comerem carne humana e envolverem-se com outros procedimentos heréticos, o pouco que se sabe, 110 mulheres e 57 homens haviam sido condenados e queimados vivos.
Quem cometesse erros na interpretação das sagradas escrituras, quem criasse uma nova seita ou aderisse a uma seita já existente, quem não aceitasse a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos, quem tivesse opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários artigos de Fé e quem duvidasse da fé Cristã, todos eram torturados barbaramente.
Sorrir era proibido! O tom sério afirmou-se como a única forma de expressar a verdade e tudo que era importante e bom. O riso, por sua vez, era visto como o oposto: a expressão do que era mau (pecado). O riso foi declarado como uma emanação do diabo. O cristão deveria conservar a seriedade sempre, para demonstrar seu arrependimento e a dor que sentia na expiação dos seus pecados. É interessante notar que nas histórias infantis medievais essa articulação entre bem e seriedade, mal e riso é fortemente representada. A mocinha que é boa sofre sempre e é tristonha; a bruxa ou feiticeira que é má está sempre dando gargalhadas. Certamente que, seguindo o raciocínio moral da Idade Média, no final da história o sofrimento será recompensado e o riso castigado.
Haveria um tempo em que qualquer bispo católico, no lugar de deter-se para salvar vidas, estaria enviando centenas delas para a morte.
Mas...até mesmo os clérigos não eram poupados, muitos eram acusados de envolvimentos com práticas ocultas mais elevadas, todo o costume que fugisse da tradição da Igreja era comparado a heresia. Época na qual “reinava” a ignorância, poucos eram os que sabiam ler e escrever, privilégios de alguns ricos, nobres, escalões da igreja e certamente clérigos, sendo assim um clérigo era capaz de ler os antigos livros de magia que circulavam sutilmente entre os chamados heréticos.
Mesmo nos níveis mais altos da hierarquia eclesiástica e às vezes até nos altos escalões, ninguém estava a salvo dos raios fulminantes da inquisição. Frei Guillaume Adeline era prior de um importante monastério em Saint-Germaine-em-Laye, era também renomado doutor de teologia, ele foi acusado de prática de feitiçaria. Os inquisidores alegaram que fora encontrado com ele um pacto por escrito com o demônio. Para um intelectual de seu porte, mesmo em uma situação de intensa dor e alto risco, as ofensas que foi obrigado a admitir devem ter parecido ironicamente ridículas: manter relações sexuais com um súcubo, voar montado numa vassoura, beijar o ânus de um bode. O Frei Guillaume Adeline foi queimado vivo.
A tortura e o temor distorciam a verdade, vizinhos acusavam-se mutuamente, cristãos denunciavam companheiros de religião, crianças testemunhavam contra os próprios pais, era família contra família, esposas delatavam seus maridos, camponeses voltavam-se contra seus senhores, foi um reinado de horror, no qual eram forçados a delatar uns aos outros.
Numa cidade do norte da França chamada Arras, um grande centro manufatureiro, um pobre ermitão foi condenado a ser queimado como bruxo. Tentando escapar da tortura, ele prontamente denunciou uma prostituta e um velho poeta até então mais conhecido por seus poemas à Virgem Maria. Estes dois, por sua vez, acusaram outras pessoas e logo começaram as fogueiras.
E a Igreja foi a principal responsável...pelas mudanças na atitude das pessoas e na política oficial que resultaram numa grande carnificina.
Os métodos para se extrair confissões não eram nada agradáveis, as pessoas não tinham benefício de um júri e também não tinham permissão de confrontar seus acusadores, aliás nem chegavam a saber a identidade de seus delatores. As confissões eram extraídas de todas as maneiras possíveis, já que nos termos da lei canônica os réus só seriam condenados mediante confissão. Um exército de torturadores trabalhava diligentemente para atingir esse objetivo. O quê certamente conseguia.
A Inquisição usava como método de obtenção de confissão a tortura e em alguns casos ao extremo, levando o torturado à morte.
Segundo Enry Thomas, grande historiador norte-americano, poderia ser escrito um livro somente sobre as torturas empregadas pela inquisição, embora nada agradável:
“O prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por uma corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do patíbulo ou do teto da câmara de tortura, em seguida, deixava-se cair o indivíduo e travava-se o aparelho ao chegar o seu corpo a poucas polegadas do solo. Repetia-se isso várias vezes. Os cruéis carrascos, as vezes amarravam pesos nos pés das vítimas, a fim de aumentar o choque da queda.“
“Depois havia a tortura pelo fogo. Colocavam-se os pés da vítima sobre carvão em brasa e espalhava-se por cima uma camada de graxa, a fim de que este combustível estalasse ao contato com o fogo."
De acordo com a lei, tortura só podia ser infligida uma vez, mas essa regulamentação era burlada facilmente...quando desejavam fazer repetir a tortura, mesmo depois de um intervalo de alguns dias, infringiam a lei, não alegando que fosse uma repetição, mas simplesmente uma continuação da primeira tortura....
Uma das experiências mais chocantes que podemos viver é visitar um museu que expõe os instrumentos de torturas usados na Idade Média. É como entrar numa câmara de horrores. É quase impossível acreditar que aqueles objetos eram usados para ferir as pessoas. Aliás, visitar museus que expõem instrumentos de torturas de qualquer época histórica e de qualquer região do mundo é sempre uma experiência muito dolorosa, porquê nos depara com a crueldade humana elevada a altíssima potência. São pessoas abusando de seu poder para ferir outras pessoas que não podem se defender. A tortura é a expressão máxima da covardia humana, por isso é tão doloroso lidar com esse assunto.
O Juiz Heinrich Von Schulteis de Rhineland do século XVII, considerava a tortura agradável aos olhos de Deus. Ele chegou a cortar os pés de uma mulher e despejar óleo quente nas feridas abertas.
Agora...que opções tinham os réus? Pois eram torturados se necessário até a morte para confessar qualquer absurdo, e quando confessavam eram queimados vivos ou teriam a cabeça decepada entre outras formas brutais e malignas de se tirar uma vida...
Quanto ao réu não saber quem o acusou e acusou-o de que, isso era extremamente interessante para a igreja, porquê dessa maneira a igreja pegava qualquer pessoa que tivesse posses e a acusava de qualquer coisa, assim sendo, a pessoa seria condenada e todos os seus bens confiscados pela “Santa Igreja”.
Falsas acusações, indulgências, pilhagens, saques tornaram a Igreja um Império Poderoso, tanto político quanto “espiritual”: o Vaticano um país dentro do território de outro país.
A arrogância clerical e os abusos de uma igreja corrupta se tornavam cada vez mais insuportáveis. No início do século XIII, o próprio Papa afirmava que os seus respeitados sacerdotes eram “piores que animais refocilando-se em seu próprio excremento”.
“Pescadores de dinheiro e não de almas”, com mil fraudes para esvaziar os bolsos dos pobres, assim eram descritos os bispos da época. De acordo com o legado papal na Alemanha, eles reclamavam de que o clero em sua jurisdição só sabia se refestelar de luxo e gulodice, não respeitava jejuns, fazia transações comerciais, jogava e caçava. Eram enormes as oportunidades de corrupção, até para a realização de seus deveres oficiais exigiam dinheiro, casamentos e funerais sem pagamento adiantado não existia e antes de uma doação não se realizava comunhão, até mesmo os agonizantes ficavam sem seus últimos sacramentos caso algumas moedas não tilintassem no cofre. As famosas indulgências eram simplesmente uma renda extra.
Por ironia do destino, tempos depois, a igreja acusava a Ordem dos Cavaleiros Templários de toda a heresia possível, inclusive de homossexuais, mas esquecera-se que dentro da própria igreja toda essa heresia era um exemplo vivo, usurpadores, torturadores e também existiam os homossexuais. O próprio Arcebispo de Tours foi um homossexual notório que fora amante do seu antecessor e que exigiu na época que o bispado vagado de Orleans fosse concedido ao seu amante. Mas esse pequeno texto é apenas um detalhe, um livro bastante indicado é “A Inquisição” (Michael Baigent & Richard Leigh) entre outros, o que se torna bastante interessante quando comparamos.
Segundo o maior poeta lírico alemão da Idade Média (os livros alemães são importantes, mas raros e quase ninguém tem acesso), Walther Von der Vogelweide (1170-1230):
“Por quanto em sono jazereis, Ó Senhor?...Vosso tesoureiro furta a riqueza que haveis armazenado. Vosso ministro rouba aqui e assassina ali, E de vossos cordeiros como pastor cuida um lobo”.
Em novembro de 1207, o Papa Inocêncio III escreveu ao Rei da França e a vários nobres do alto escalão francês, obrigando-os a suprimir os “hereges” em seus domínios pela força militar, em troca recebiam variáveis recompensas, desde absolvição de seus pecados e vícios, liberação de pagamento de todo juro sobre suas dívidas, isenção da Jurisdição dos Tribunais Seculares, além é claro de todas as vantagens explícitas ainda recebiam permissão para saquear, roubar, pilhar e expropriar propriedades. Sendo assim...surgiram batalhas uma após a outra, massacres, que segundo a Igreja eram conhecidos como “Guerra Santa” em nome de Deus, mas de um Deus que somente a igreja conhecia e se beneficiava da sua proteção.
Assim teve início a Inquisição em pleno tumulto da Idade Média por um decreto papal de 1233 que oficializava a lei do Vaticano. Nos cinco séculos seguintes essa temível instituição continuaria consumindo o que ela julgava como inimigos da igreja, heréticos ou feiticeiros às centenas de milhares.
Na Provença, a inquisição varreu os Cátaros (link página principal) da face da terra, os cátaros abraçavam um extremo ascetismo e espalharam sua doutrina por boa parte do continente durante os séculos XII e XIII, eles acreditavam que o mundo físico estava impregnado pelo mal e tinha Satã como seu rei. De acordo com essa lógica, a Igreja Católica era também um instrumento do demônio e abomináveis eram todos os seus sacramentos. Muitos nobres abraçaram a sua fé, arrebanharam um número enorme de seguidores no sul da França, seus adeptos tornaram-se conhecidos como Albigenses (Albi – Provença). A sua importância crescente tornou-se um insulto intolerável para o poderio da Igreja Católica, então a igreja decidiu apelar para a força...
E logo estendeu seu braço para outras partes da França, depois da Itália e da Alemanha. Na Espanha foi estabelecida sua própria inquisição, utilizando os mesmo métodos brutais para perseguir mouros, judeus, heréticos e qualquer grupo suspeito de prática de feitiçaria.
Assim teve início a verdadeira “arte de matar”, onde o palco era a fogueira, os acessórios eram os instrumentos de torturas e os figurantes eram o povo suprimido que não tinham a quem recorrer ou pedir proteção, porquê o Deus que até então tinham conhecimento era o mesmo Deus que a Igreja utilizava-se para comandar a “Guerra Santa”.
Quando a carnificina atingiu o auge nos domínios germânicos, em meados de 1600, povoados inteiros eram dizimados de uma só vez. Segundo alguns relatos, o inquisidor da Saxônia, Benedict Carpzov assinou pessoalmente nada mais nada menos do que 20 mil penas de morte.
Contudo, grande parte dos documentos desses tribunais se perdeu e o número verdadeiro de todos esses assassinatos jurídicos nunca será revelado. De qualquer modo, tratou-se de uma experiência sombria, horrível e vergonhosa para a civilização e para o cristianismo.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Catarismo


O catarismo, do grego katharos, que significa puro, foi uma seita cristã da Idade Média surgida no Limousin (França) ao final do século XI, a qual praticava um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, manifestado num extremo ascetismo. Concebia a dualidade entre o espírito e a matéria, assim como, respectivamente, o bem e o mal. Os cátaros foram condenados pelo 4º Concílio Lateranense em 1215 pelo Papa Inocêncio III, e foram aniquilados por uma cruzada e pelas acções da Inquisição, tornada oficial em 1233.
Os cátaros, também chamados de albigenses, rejeitavam os sacramentos católicos. Aqueles que recebiam o batismo de espírito, consolamentum, eram considerados os perfeitos e levavam uma vida de castidade e austeridade e podiam ser tanto homens quanto mulheres. Os crentes apenas eram os homens bons e tinham obrigações menores; recebiam o consolamentum na hora da morte.
Apesar desta hierarquia, os cátaros não restringiam a experiência transcendental, e/ou divina (no caso, também gnóstica) aos mais graduados, mas a qualquer um que assim desejasse e experimentasse estados alterados de consciência.
Essa concepção sem hierarquia da espiritualidade foi considerada pela igreja católica uma ameaça para a fé e a unidade cristã, já que atraiu numerosos adeptos. Assim sendo, o catarismo foi considerado herético e contra ele foi estabelecida aCruzada albigense (1209-1229). A cruzada teve parte de interesses políticos, já que as localidades onde se praticavam o catarismo (nota: esta seita era conhecida por sua tolerância religiosa ao passo que conviviam, nos mesmos reinados, judeus, pagãos, e até mesmo católicos) encontravam-se ligadas ao reino da França, porém independentes do mesmo.
No início do século XII, a Igreja católica presenciará a difusão da heresia dos cátaros ("Kataroi", puro em grego) ou albigenses (nome derivado da cidade de "Albi", na qual vivia um certo número de heréticos) que se propagará no território do Languedoc, sudoeste da França (da língua occitâna da região - "Língua do Oc"; Oc= "Sim", em oposição à "Langue d'Oui", do norte da França). Também se designava freqüentemente esta região por "Occitânia", que advém das mesmas raízes lingüísticas.
Antes de tudo, é conveniente ressaltar que o catarismo não pertence exclusivamente ao Languedoc, nem o Languedoc deve ser visto exclusivamente sobre o prisma do catarismo. Aderentes à doutrina cátara recebem diferentes nomes no país em que se inserem: Na Itália, eram conhecidos como "patarinos", na Alemanha como "ketzers"; na Bulgária, como "bogomils". Existiram cátaros na França, na Catalunha, na Itália, na Alemanha e, ao que parece, na Inglaterra.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessário várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal. Não concebiam a idéia de inferno, pois no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus do mal todos seriam salvos. Praticavam a abstinência de certos alimentos como a carne e tudo o que proviesse da procriação. Jejuavam antes do Natal, Páscoa e Pentecostes, não prestavam juramento, base das relações feudais na sociedade medieval, nem matavam qualquer espécie animal.
Os cátaros organizaram uma igreja e seus membros estavam divididos em crentes, perfeitos e bispos. As pessoas se tornavamperfeitos (homens bons) pelo "ritual do consolament" (esta cerimônia consistia na oração do Pai Nosso; reposição da veste, preta no início, depois azul, substituída por um cordão no tempo da perseguição. Tocava-se a cabeça do iniciante com oEvangelho de são João, e o ritual terminava com o beijo da paz). Os crentes podiam abandonar a comunidade quando quisessem, freqüentavam a Igreja Católica, eram casados e podiam ter filhos. Dessa forma, eles poderiam levar uma vida agradável, obtendo o perdão e sendo salvos.
Durante o período das perseguições as igrejas cátaras foram destruídas, os ofícios religiosos eram realizados em cavernas, florestas e casas de crentes. A doutrina cátara foi aceita por contrariar alguns dogmas cristãos, principalmente no que se refere a volta à pobreza e ao retorno do cristianismo primitivo.
Devido à propagação da heresia cátara a partir de1140, a Igreja começa a tomar medidas para combate-la, sendo que no início tentava os heréticos a fé católica por meio da pregação, não adotando trágicas medidas, pois isto não harmonizava com a caridade pregada pelo cristianismo. Vemos aqui um motivo político para investidas contra as comunidades cátaras e sua doutrina. Poderia haver outros motivos para tais investidas?
A maior parte das terras atingidas pela heresia pertencia à província de Narbona, somente a região de Albi ligada à província de Bourges. O Languedoc é anexado a França em 1229 pelo Tratado de Meaux. O êxito da propagação da heresia nos bispados do Languedoc pode ser explicado pela situação política da região, independente do reino da França, as altas autoridades eram os grandes senhores feudais, o conde de Toulouse e o visconde de Béziers, ambos simpatizantes da heresia cátara.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas pregações do monge Henrique, embora este não fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas palavras deixaram de pagar os dízimos e de comparecer as igrejas, seus ensinamentos foram combatidos porBernardo de Clairvaux (São Bernardo).
Os cátaros a exemplo dos primeiros cristãos levavam vida ascética de alta espiritualidade, vivenciando na prática um cristianismo puro, numa total alta-renúncia a tudo o que era deste mundo, eram conhecidos como verdadeiros discípulosde Cristo, a serviço do mundo e da humanidade, um verdadeiro exemplo de amor ao próximo.
Os cátaros galgavam o caminho da transformação ou da transfiguração.

domingo, 29 de julho de 2012

Avalon ou Glastonbury


Castelos e fortificações de pedra compõem boa parte da paisagem da Inglaterra rural. Em muitos deles, a passagem do Rei Arthur e de seus leais cavaleiros da Távola Redonda com seus feitos nobres deixou marcas, ajudando a construir suas histórias.
Mas é no sudoeste da Inglaterra, a 150 km de Londres, na cidadezinha de Glastonbury (um dos lugares mais sagrados da Inglaterra) que expedições arqueológicas encontraram não só vestígios de um Arthur em carne e osso como também do seu refúgio, a lendária Ilha de Avalon.
Para muitos respeitáveis estudiosos, porém, não há dúvidas de que a pacata e bucólica Glastonbury de hoje foi outrora a mítica Ilha de Avalon e atrai visitantes de todos os gêneros: românticos fascinados pela história do rei Arthur, peregrinos à procura da herança da antiga religião, místicos em busca do Santo Graal, em busca da energia que emana de Stonehenge que era ligada ao antigo rio Avalon, ainda quando Glastonbury era rodeada por pântanos, enquanto; os astrólogos são seduzidos pela existência de um zodíaco na paisagem, chamado Templo das Estrelas de Glastonbury por Katherine Maltwood.

Pesquisas arqueológicas atestam que os campos de Glastonbury há milhares de anos, foram pântanos drenados, ou seja, a cidade já foi uma ilha, o que reforça sua proximidade com as lendas de Avalon também chamada de "Ynis Vitrin" ou Ilha de Vidro. O nome Avalon tem origem no semi-deus celta Avalloc. Os Celtas a consideravam uma passagem para outro nível de existência.
Segundo pesquisadores, Avalon ainda pertencia ao mundo, a comunidade de lá convivia pacificamente com os cristãos, que ali chegaram pedindo abrigo. Foram acolhidos com a condição de que não interferissem nos cultos e nas tradições antigas. Diz-se que padre José de Arimatéia levou o cálice Graal contendo o sangue de Jesus para a ilha de Avalon (Glastonbury com seus pântanos atualmente drenados).
Em Avalon havia suas deusas e deuses, vivia em harmonia com a natureza, ao seu ritmo, seguindo as mudanças das estações do ano, os ciclos da lua com seus antigos rituais. Viviam lá as Sacerdotisas da Lua e aprendizes dos mistérios e forças da natureza, conheciam a magia, as ervas para curar, os segredos do céu e das estrelas e a música principalmente...Em Avalon onde tudo florescia era iluminada pelo sol.
Entretanto, com o passar do tempo, os padres (não José de Arimatéia, que se “dizia”, teria uma concepção contrária de outros padres) começaram a ver os cultos pagãos como profanos, dizendo que em seus rituais o demônio era adorado, condenando-os. Muitas comunidades pagãs foram destruídas, e a partir de 391, com a consolidação do cristianismo como religião oficial do Império Romano, as perseguições tornaram-se maiores e os cultos pagãos foram totalmente proibidos.
Avalon é uma ilha sagrada. Há muitas eras, pertencia ao mundo, mas hoje, está entre a Terra e o Reino Encantado, cercado pelas brumas que encobrem a ilha e a separa do mundo dos homens.
Inúmeros sítios místicos da Bretanha envolvem uma história particularmente rica e variada, figurando em cultura druida, cristãos, cultos celtas, no ciclo arturiano e na espiritualidade da Nova Era. No entanto, mesmo as associações mais antigas são relativamente novas, se comparadas com os primórdios dos marcos sagrados. Há 6 mil anos ou mais, alguns desses sítios constituíam o solo sagrado de um povo mais remoto – os adoradores neolíticos da Deusa-Mãe.
A Deusa, uma divindade da mãe-terra reverenciada pelas sociedades primitivas em muitas partes do mundo, aparentemente teve seus seguidores na Inglaterra. Em Silbury Hill há uma enorme colina perto de Stonehenge, que teria representado o ventre da deusa grávida. Para erguê-la, seus construtores teriam feito um esforço prodigioso, arrastando cerca de 36 milhões de cestas cheias de terra, durante 15 anos.
A pedra-ovo, considerada símbolo da poderosa mãe cósmica pode possuir uma energia própria: Dowsers afirma que ela emite fortes vibrações. Com quase 40 metros de altura, uma estrutura artificial pré-histórica que alguns historiadores acreditam que ela representasse um olho, um símbolo usual da deusa-mãe. O morro em si seria a íris e o círculo em seu topo, a pupila.
A 1,50 quilômetro a leste de Glastonbury, ergue-se a mais de 150 metros de altitude outra colossal gravidez da terra, o Tor, um cone extraordinário, visível de todas as direções em um raio de mais de 30 quilômetros.
Ao redor de suas encostas os terraços construídos pelos homens formam um imenso labirinto que se enrosca até o corpo. Alguns pesquisadores acreditam que esses caminhos tortuosos foram projetados para a prática de rituais pagãos, na pré-história.
O Tor é coroado pela torre em ruínas de uma igreja dedicada a São Miguel, um célebre caçador de dragões e inimigo dos espíritos do mal.

Os monges medievais erigiram a igreja com o intuito de cristianizar o local e erradicar seus vínculos com reis e deuses pagãos.
O que na minha opinião, este tipo de estratégia nunca funcionou, pois a fé está dentro de nossos corações, em nossos pensamentos e a natureza é a nossa razão principal, não serão templos erguidos pelas mãos de mortais que irão fazer de nós pessoas boas ou ruins.
Cito aqui uma mensagem que tive o prazer de ler no livro da Marion (As Brumas de Avalon) em que diz: Morgana fala...
A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...
Segundo uma lenda celta, a entrada para Annwn, a morada subterrânea das fadas, pode ser encontrada através de túneis e câmaras naturais localizadas debaixo do Tor. Seria através desse portal que Gwynn ap Nudd, rei das fadas, teria partido em caçadas selvagens para encontrar e roubar os espíritos dos mortos.
O Tor de Glastonbury é inconfundível em uma vista aérea. Sobressai de tal maneira na paisagem, que induziu à hipótese de ter servido como referência para a aterrissagem de discos voadores. “Tor” em celta significa Portal, passagem; estaria ali o umbral que permite a passagem do nosso mundo para a ilha sagrada de Avalon.
Uma tradição milenar relata também que está em Glastonbury (antiga Ilha de Avalon) o Poço do Cálice Sagrado (Chalice Well), onde José de Arimatéia, amigo e protetor de Cristo, no ano 37 d.C., teria escondido o Santo Graal, o cálice da Santa Ceia, contendo o sangue de Jesus. O poço fica nas proximidades da colina de Tor.

É um lugar muito apreciado para meditação. De uma fonte, sai uma água pura e cristalina com propriedades medicinais. O sangue do cálice teria sacralizado e tingido a água pura do poço.
Esta é realmente vermelha. Segundo cientistas, devido ao alto teor de ferro no solo. Para os turistas e locais, beber as águas do "Chalice Well" é beber da própria fonte da juventude.
Enfim, Glastonbury é um berço sagrado que abriga muitos mistérios...

sábado, 28 de julho de 2012

A Busca de Camelot



Antes de chegarmos à Camelot, vamos falar de Tintagel, onde tudo, ou quase tudo começou...Geoffrey de Monmouth identificou como local de nascimento de Arthur o castelo de Tintagel, na costa escarpada da Cornualha, no sudoeste da Inglaterra. Os céticos acusam: esse castelo foi construído no século XII, muito após o nascimento de Arthur.
Mas as escavações arqueológicas feitas nos cabos íngremes nas cercanias das ruínas do castelo revelaram resquícios de construções de pedra, talvez pertencentes a uma fortaleza de alguma poderosa família Celta. Fragmentos de cerâmica mediterrânea dos séculos V e VI encontrados nessas escavações datariam da época de Arthur, contribuindo assim para endossar a lógica de Geoffrey ao focalizar ali o nascimento de Arthur.
Duas formações rochosas perto do castelo de Tintagel receberam do povo da Cornualha os nomes de Trono de Arthur e Xícaras e Pires de Arthur.
A busca de Camelot, casa e quartel-general de Arthur e sua fraternidade, centralizou-se em Cadbury Hill, um forte da Idade do Ferro sobre um platô de 150 metros de altitude, perto da vila de Somerset (uns 18 quilômetros de distância de onde se localiza o Templo das Estrelas), em South Cadbury.



A colina nunca sediou um castelo nos moldes da Idade Média, porém suas antigas fundações revelam a existência de uma formidável cidadela diversas vezes usada como fortaleza ao longo dos séculos.
Em suas cercanias corre um pequeno rio, em cujas margens Arthur teria travado sua última batalha. Segundo uma teoria alternativa, a batalha de Camlan teria sido travada perto de Camelford, na Cornualha.


A associação de Cadbury Hill a Camelot remonta a John Leland, um antiquário do século XVI que passou grande parte da vida pesquisando histórias arturianas. Em 1542, após uma viagem a South Cadbury, Leland escreveu: “Bem na extremidade sul da igreja de South-Cadbyri (Cadbury) ergueu-se Camalat (Camelot), que um dia foi um castelo ou uma cidade de renome. (...) O povo nada sabe disso, mas ouviu falar que Arthur freqüentava muito Camalat (Camelot).”
Séculos mais tarde, os aldeões de South Cadbury deram ao topo da colina o nome de Palácio de Arthur.
No final da década de 1960, os arqueólogos levaram quatro anos fazendo minuciosas escavações em determinadas áreas de Cadbury Hill, em busca de provas que vinculassem aquele ermo local ao grande rei Arthur, em um projeto que denominaram “A busca de Camelot”.


Descobriram que as quatro grandes cristas feitas pelo homem no alto da colina haviam sido reconstruídas diversas vezes, durante um período de 5 mil anos (exatamente o mesmo tempo em que foram feitas as figuras zodiacais, chamado Templo das Estrelas de Glastonbury).
No século I a fortaleza fora assaltada e capturada pelos romanos, sendo abandonada em seguida. Centenas de anos depois, no tempo de Arthur, os novos habitantes erigiram diversas construções na parte mais elevada da colina (O Palácio de Arthur), incluindo um portal em estilo romano e um grande átrio de madeira.
Mas a estrutura mais sofisticada e surpreendente era um muro construído com madeira e pedra, medindo cerca de 5 metros de espessura e pouco mais de 1.200 metros de extensão. Tanto o projeto como a construção do muro seguiam padrões celtas, e não romanos, sugerindo que fora encomendado por um admirador da arte celta tradicional.
E como não se descobriu na Bretanha qualquer outra estrutura do mesmo porte e tipo, os arqueólogos acreditam que deve ter sido feita por ordem de um governante que dispunha de imensos recursos em trabalhadores e dinheiro.

Naturalmente, essa descrição condiz com a figura do rei Arthur.
“A conclusão inevitável é que [Cadbury Hill] foi a fortaleza de um grande líder militar, um homem em posição única, com enormes responsabilidades e uma mentalidade especial.” – escreveram Leslie Alcock e Geoffrey Ashe, dois arqueólogos e historiadores envolvidos nas escavações da “Busca de Camelot”.
O que foi encontrado nas escavações, não poderiam chamar o proprietário pelo nome de Arthur, porém Alcock e Ashe afirmaram que a questão do nome “não passava de um detalhe”. O homem que governava Cadbury Hill (ou seja, Camelot ou Camalat) nessa espetacular refortificação do século VI, observaram, poderia, mais do que qualquer outro personagem daquela época, ser identificado com Arthur, “uma pessoa com grandeza suficiente”.
Menos de 18 quilômetros de distante de Cadbury Hill situa-se Glastonbury, um lugar sagrado impregnado de magia, que remonta à era pagã. Ali foi o antigo sítio da etérea ilha de Avalon, para a qual Arthur fora levado para que seus ferimentos fossem curados pela fada Morgada. Há muitos séculos ali encerrava-se em uma ilha, cercada por pântanos que depois foram drenados. Seu antigo nome celta Ynis Witrin, ou Ilha de Vidro.

Sem dúvida o rei Arthur, sua távola redonda, seus leais cavaleiros, também sua Avalon, suas sacerdotisas, fadas como queiram, enfim seu reino nos deixaram muitas coisas boas que preenchem nossa alma de alguma forma. Curioso, como tempos remotos nos atingem até os dias de hoje e continuarão atingindo com suas, nossas origens.
Um dia eu estava pesquisando sobre um determinado assunto, e me deparei com um site de escoteiros mirins, e fiquei emocionada da forma com que eles retratam a távola redonda de Arthur. Todos os dias eles se reúnem em volta de sua própria távola para discutirem sobre assuntos ligados ao escotismo, suas próximas missões, enfim uma solidariedade contagiante.


Onde todos são diferentes uns dos outros, ali na távola redonda eram todos iguais e com um mesmo objetivo. Fiquei tão emocionada, que enviei uma mensagem elogiando o belo trabalho. Acho que essas são as verdadeiras provas de que algum dia em tempos antigos, Arthur viveu, e continua vivendo em nossoscorações.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A abadia de Glastonbury e o Túmulo de Arthur



Os primeiros registros oferecem apenas um perfil de Arthur. Aparentemente, Arthur teria nascido pelo final do século V. Escassos indícios sugerem alguns outros fatos que em geral vieram a ser aceitos pelos historiadores: a família de Arthur descenderia diretamente de uma linhagem aristocrática de origem celta, intimamente vinculada aos romanos.
O primeiro livro a esboçar uma visão grandiosa de Arthur foi Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha), considerado por alguns historiadores como um dos principais manuscritos da Idade Média. Concluída em meados de 1136, a História foi escrita por Geoffrey de Monmouth, clérigo e professor em Oxford. Geoffrey afirmava ter utilizado como fonte “um certo livro muito antigo em idioma britânico”. O relato de Geoffrey é provavelmente o ponto culminante de seiscentos anos de narrativas transmitidas de geração em geração pelos contadores de histórias ingleses, irlandeses, galeses e franceses.
Segundo Geoffrey, Merlin o mais famoso mago de todos os tempos fez os arranjos para que Uther Pendragon encontrasse a duquesa da Cornualha Igraine, ela engravidou, tendo concebido Arthur.
Arthur teria se tornado rei aos 15 anos, brandindo uma espada chamada Caliburn (Excalibur nas versões posteriores), que segundo Marion Zimmer Bradley “seria a espada sagrada da Ilha de Avalon que fora concedida a Arthur sob juramento de defender Avalon e fazer com que reinasse a paz entre os mundos com igualdade de direitos.”
O rei Arthur de posse da espada, não só expulsou os saxões da Bretanha, mas também conquistou grande parte da Europa. Conseguindo, nas palavras de Geoffrey, “devolver à Bretanha sua antiga dignidade” e estabelecer uma grande corte medieval. Mas por fim foi traído por Mordred, que conspirou com os saxões e declarou-se rei durante a ausência de Arthur. Após derrotar Mordred em diversas batalhas, Arthur foi mortalmente ferido e seus leais cavaleiros carregaram-no até a ilha de Avalon, onde foram recebidos pela fada Morgana. “Ela deitou o rei sobre um leito dourado em seus aposentos, descobriu o ferimento com suas nobres mãos e examinou-o longamente. Finalmente ela disse que só poderia curá-lo se ele permanecesse ali por um longo período e aceitasse seu tratamento”. Naturalmente, Arthur aceitou suas condições.
Assim, Geoffrey convalidou a crença tradicional segundo a qual Arthur não teria morrido em conseqüência dos ferimentos em batalha, mas continuaria vivendo na sagrada e misteriosa ilha de Avalon. Dali, segundo dizem, retornará um dia para ajudar o povo celta a reconquistar a soberania sobre sua terra.
Embora a tradição assegure que Arthur ainda vive, adormecido na ilha de Avalon (em Glastonbury onde antigamente era rodeada por pântanos e possivelmente existira a ilha), outra história descreve como ele pereceu devido aos ferimentos na batalha de Camlan, tendo sido sepultado em local desconhecido.
Em um antigo poema galês, A Canção dos Túmulos, afirma-se que Arthur é o único guerreiro célebre cujo local de sepultamento não é conhecido. “Trata-se de um mistério para o mundo, o túmulo de Arthur”, escreveu o poeta; e esse mistério permanece até hoje.
Acreditou-se que houvesse sido descoberto no final do século XII, quando o rei Henrique II relatou que, segundo lhe dissera um bardo galês itinerante, Arthur estava enterrado no cemitério da abadia de Glastonbury, mas não foram feitas tentativas para localizar o túmulo, até um incêndio destruir grande parte da abadia, inclusive a velha igreja de taipa, em 1184.
Durante a reconstrução da abadia, o abade ordenou uma busca para encontrar o túmulo de Arthur. Ao serem feitas as escavações descobriu-se, a uma profundidade de 2 metros, uma lápide de pedra e, embaixo dela, uma cruz de chumbo que exibia a inscrição:
Hic iacet sepultus inclitus rex arturius in insula avalonia (“Aqui jaz enterrado o célebre rei Arthur na ilha de Avalon”). Cerca de meio metro abaixo encontrou-se um esquife, construído com uma tora oca. Dentro dele havia ossos de um homem alto, cujo crânio fora grotescamente fraturado, levando os pesquisadores a concluírem que ele fora assassinado com um golpe na cabeça. Havia também ossos menores e uma madeixa de cabelos dourados, que teriam se desintegrado ao toque. Os monges concluíram que esses outros restos mortais deveriam pertencer a Guinevere.
Os ossos foram depositados em dois sepulcros cuidadosamente esculpidos e permaneceram ali entesourados na abadia por quase um século. Em 1278, na presença do rei Eduardo I, foram novamente desenterrados. “Lorde Eduardo (...) com sua consorte, Lady Eleanor, vieram aGlastonbury (...) para celebrar a Páscoa”, escreveu um certo Adam de Domerham, que assistiu o evento.
“Na terça-feira seguinte (...) ao entardecer, o senhor rei ordenou que abrissem o túmulo do rei Arthur. Dentro dele havia dois ataúdes pintados com suas figuras e brasões; foram encontrados separadamente os ossos do rei, os quais eram enormes, e os da rainha Guinevere, que conservam maravilhosa beleza”.
“No dia seguinte o rei recolocou os ossos do rei e da rainha, cada qual em seu esquife, após ordenar que os envolvessem em sedas preciosas. Quando foram selados os ataúdes, ordenou que fossem colocados diante de um majestoso altar, para que o povo os venerasse”.
Os ossos lá permaneceram até o ano de 1539, quando agentes do rei Henrique VIII invadiram a abadia, assassinaram o abade, saquearam os tesouros e abandonaram a igreja em ruínas. Um dos objetos que se perdeu durante o assalto foi a cruz que servira um dia de marca para a sepultura de Arthur. Os restos mortais de Arthur e Guinevere foram levados para outros lugares até, finalmente, desapareceram.
Alguns historiadores acreditam que a descoberta do túmulo de Arthur em Glastonbury pode ter sido um embuste, instigado pelos monges que desejavam obter fundos para reconstruir seu monastério - esquema indiretamente apoiado por Henrique II.
Para esses céticos, o verdadeiro objetivo do rei Henrique seria enfraquecer a resistência galesa ao governador britânico, provando que o rei Arthur estava morto e que, portanto, seria incapaz de retornar para defender a causa celta.
Contudo, as escavações conduzidas na abadia de Glastonbury, em 1962, peloarqueólogo britânico Ralegh Radford demostraram que, no século XII, os monges haviam realmente escavado o solo da abadia, em um ponto entre duas antigas pirâmides ou cruzes, tendo ali descoberto um túmulo muito profundo.

Radford conscienciosamente anotou que as escavações não haviam revelado a quem pertenceria aquele túmulo.

Uma das mais famosas escavações feitas na abadia de Glastonbury ocorreu noinício do século XX, pouco após a igreja da Inglaterra ter adquirido as desoladas ruínas da abadia no ano de 1907.
A essa altura o edifício, que antes fora magnífico, estava arruinado, sem qualquer possibilidade de restauração: a maioria das pedras daquela estrutura decadente havia sido vendida, destinando-se à construção de prédios na região.
Ninguém era capaz de determinar o local no qual os monges haviam habitado, e então, para compreender melhor a história da abadia, a igreja decidiu escavar o sítio.
O homem escolhido para dirigir esse projeto foi Frederick Bligh Bond, arquiteto excêntrico e temperamental, perito em arquitetura gótica e especialista noestudo das igrejas antigas. Embora contasse com poucos registros históricos para guiá-lo, Bond foi surpreendentemente feliz desde o início, trazendo à luz os alicerces de cinco capelas; o dormitório, a cozinha e o refeitório dos monges; um forno utilizado para fabricação de vidro e cerâmica; e diversos outros aposentos e estruturas que, até então, nunca haviam sido descobertos.
A precisão de Bond para determinar os lugares que deviam ser escavados era fenomenal.
Uma de suas principais tarefas era encontrar a desaparecida capela de Edgard, erigida pouco antes de a abadia ter sido destruída pelos vândalos deHenrique VIII. Bond insistiu para que procurassem a capela na extremidade leste da abadia, um sítio que os outros peritos consideravam pouco indicado para um santuário tão importante.
Ele até previu o comprimento de 180 metros.

Os escavadores encontraram a capela exatamente onde ele dissera que estaria – com o preciso comprimento de 180 metros.
Durante quase uma década, Bond atribuiu publicamente seus sucessos na abadia de Glastonbury a seu instinto e sorte. Então, em 1918, publicou um livro intitulado O Portal da Lembrança, no qual revelava o que afirmava ser a verdadeira história por trás de suas escavações. Declarou que seu sucesso fora possível graças à comunicação com espíritos de mais de vinte antigos moradores de Glastonbury, há muito falecidos. Entre eles figuravam monges,cavaleiros, um fabricante de relógios, um mestre pedreiro e um vaqueiro.
Para estabelecer a comunicação com os mortos, Bond contara com a ajuda de um amigo espírita, John Alleyne Bartlett, que era médium e capaz de receber mensagens escritas dos espíritos através de uma prática conhecida como psicografia. Ele afirmava que sua mão deslizava pela página sem qualquer esforço mental, pois o lápis era conduzido por outra inteligência que não a sua. Bond fazia as perguntas e Bartlett escrevia respostas muitas vezes enigmáticas, reunindo páginas e páginas de comentários, esquemas e casos contados pela Companhia de Avalon, como supostamente se chamava aquele grupo de espíritos.
Bond afirmava ter sido Gulielmus Monachus, ou William, o Monge, um dos mais antigos clérigos da abadia, que o levara primeiramente ao sítio da capela de Edgard. William teria revelado também o conteúdo de um túmulo misterioso no lado sul da nave da abadia, no qual foi descoberto um esqueleto com o crânio de outro homem depositado entre os joelhos. Segundo William, os restos mortais pertenciam a Radulphus Cancellarius, ou Radulphus, o Tesoureiro. “Antes de morrer, ele pedira àqueles que o amavam para enterrà-lo do lado de fora da igreja, pois queria alimentar os pássaros”, disse o espírito de William a Bond.
“O sol realmente brilhou ali, como ele gostava, pois seu sangue estava frio”. Embora os familiares de Radulphus não soubessem, acrescentou William, o esqueleto de um homem a quem Radulphus matara há muitos anos havia sido enterrado exatamente no mesmo local. Assim, os ossos de dois inimigos mortais terminaram repousando em um só túmulo.
Nem todas as histórias relatadas pelos espíritos da abadia eram assim tão macabras. Além de fornecerem detalhes acerca das construções de Glastonbury, às vezes revelavam segredos íntimos. Poderíamos até citar mais alguns, como o romance de um monge; mas seria por pura curiosidade, e o texto iria se prolongar demais.
Enfim, a publicação do livro de Bond causou bastante furor. As autoridades eclesiásticas (como sempre, não poderia deixar de ser) consideraram-se ultrajadas com a revelação de que o arquiteto teria usado práticas espíritas durante a escavação da abadia e imediatamente nomearam um novo supervisor para o projeto. Em 1921 Bond havia sido rebaixado, sendo incumbido de catalogar e limpar os artefatos de suas descobertas anteriores. Um ano depois, foi demitido e banido dos trabalhos na abadia, arruinando sua carreira. A igreja mandou suspender a escavação e algumas paredes das fundações desenterradas por Bond foram removidas ou cobertas de grama.
Bond viveu mais 23 anos, escrevendo diversos livros sobre a Companhia de Avalon e outros fenômenos paranormais. Morreu em 1945pobre e desiludido.
Esses e muitos outros mistérios estão ali, enterrados na antiga abadia de Glastonbury; seria como Marion Zimmer Bradley (escritora de As Brumas de Avalon) cita em um dos trechos em que: Morgana fala...

E agora que este mundo está mudado, é preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do Cristo Branco espalhem por toda parte os seus santos e lendas.
Pois, como disse, o próprio mundo mudou.
Houve tempo em que um viajante se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos, poderia levar sua barca para fora, penetrar no mar do Verão e chegar não ao Glastonbury dos monges, mas à ilha sagrada de Avalon: isso porque, em tal época, os portões entre os mundos vagavam nas brumas, e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e desejo dos viajantes. Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.
E agora os padres, acreditando que isso interfere no poder do seu Deus, que criou o mundo de uma vez por todas, para ser imutável, fecharam os portões (que nunca foram portões, exceto na mente dos homens), e os caminhos só levam à ilha dos padres, que eles protegeram com o som dos sinos de suas igrejas, afastando todos os pensamentos de um outro mundo que viva nas trevas. Na verdade, dizem eles, se aquele mundo algum dia existiu, era propriedade de Satã, e a porta do inferno, se não o próprio inferno. Não sei o que o Deus deles pode ter criado ou não. Apesar das historias contadas, nunca soube muito sobre seus padres e jamais usei o negro de uma de suas monjas-escravas. Pois sempre usei as roupas negras da Grande Mãe em seu disfarce de maga, não os desiludi.
A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...Mas talvez eu seja injusta com eles. Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles.
“Todos os deuses são um deus”, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador. E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Távola Redonda do Rei Arthur

No grande Átrio do Castelo Real de Winchester (antiga Inglaterra), está suspensa na parede a távola redonda do rei Arthur, com seis metros de diâmetro e o peso de uma tonelada. A távola redonda contém os nomes dos cavaleiros do rei. A peça central da corte de Artur fora a Távola Redonda que simbolizava a expansão do poder e da glória por todo o Mundo. Em termos reais era muito mais do que isso.
Tratava-se de uma força em prol da harmonia e da fraternidade. Era um antídoto contra a inveja, a ambição, a ânsia da supremacia e do poder – defeitos humanos que caracterizavam a mentalidade na Idade Média.
Alguns pesquisadores asseguram que a távola redonda fora um presente para o rei Arthur, construída por um carpinteiro da Cornualha e sua forma redonda teria um fim: evitar disputas pelos leais cavaleiros do rei.
Outro relato mais conhecido assegura que foi José de Arimatéia o primeiro guardião do Santo Graal que construiu a távola do Graal para comemorar a última ceia, com um assento sempre vago para representar o então traidor Judas Iscariote.
No entanto existem outros relatos que dizem: que o assento vago na távola redonda do rei Arthur pertencia a Jesus Cristo e só um cavaleiro capaz de recuperar o Santo Graal, teria o direito de ocupar este lugar vago.
Segundo alguns escritores a távola redonda foi construída por um carpinteiro, este era o pai de Guinevere. A távola foi presente do carpinteiro a Arthur em forma de dote quando este se casou com Guinevere, e foi Merlin quem escolheu os cavaleiros para que se sentassem a ela, e então, predisse a busca do Santo Graal.
A Távola Redonda também, segundo alguns pesquisadores representa o símbolo cósmico do todo, com o Graal em seu centro místico e os doze leais cavaleiros representando os signos do zodíaco.
Em 1976, a távola redonda foi alvo de uma extensiva investigação científica, até então a távola teria sido datada pelo carbono 14 como existente desde 1463 e provavelmente pintada pelo rei Henrique VIII em 1522.
Agora, com a tecnologia mais avançada, o método do radiocarbono (carbono 14), e o estudo da carpintaria prática mais especializada foi revelado que a távola redonda foi construída em 1270, no início do reinado do rei Edward.

Sabe-se que o rei Edward tinha grande interesse pelas histórias arturianas e teria ido a Glastonbury junto com sua consorte Lady Eleanor para celebrarem a Páscoa e ir também na abadia, onde ordenou que abrissem o túmulo de Arthur.
Távola Redonda sabe-se, que provavelmente fora usada em muitos torneios que o rei Edward gostava de realizar.
As lendas arturianas adaptavam-se bem aos ideais das cruzadas e da cavalaria que despontaram nos séc. XI, XII e XIII. Os cavaleiros de Artur serviam de modelo a todos os guerreiros como cruzados triunfantes em busca do Santo Graal, o cálice utilizado por Jesus Cristo na última ceia.
Mas a crença de que o rei não morreu e regressará com os seus cavaleiros, a fim de retomar a luta contra os males do mundo continua viva...


terça-feira, 24 de julho de 2012

Tristão e Isolda


Sir Tristão de Lionesse (O Cavaleiro Poeta) Rica é a bibliografia de Tristão e Isolda. Além de figurarem em escritos celtas antigos, os chamados mabinogions (porque eram destinados à educação do mabinog, ou discípulo do bardo) e em narrativas populares anônimas, como Folie Tristan, Luite Tristan e Tristan Moine, inspiraram uma vasta literatura em francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e português.
O nome do pai de Isolda, Gormond, é escandinavo, e ela mesma aparece às vezes como "Isolt". Acrescente ao fato dela ser loura (la Blonde). Donde a idéia de que a história remonte ao tempo dos vikings na Irlanda. No entanto, segundo a maioria dos autores, a lenda é celta e tem por base a vida de um rei picto que viveu na Escócia, onde reinou de 780 a 785.
Chamava-se Drest filius Talorgen. O Livro Vermelho de Oxford alude a um certo Drystan ab Tallwch, amante de "Essylt", mulher de "Marc". "Tristan" proviria então de "Drest", "Drystan", "Drust", "Drustan". Em português, impunha-se Iseu ao invés de Isolda, forma alemã popularizada por Wagner, como pode-se ver pelo Cancioneiro da Vaticana, de D. Dinis: o mui namorado Tristan sey ben que non amou Iseu quant'eu vos amo.... Já Jorge Ferreira de Vasconcelos usa "Iseo", com "o", em Memórias das proezas da segunda Távola Redonda, Lisboa, 1567, capítulo XLII: "... de dom Tristam de Leonis e da sua amada Iseo...”.
A popularidade da história de Tristão e Isolda foi conseguida graças a Maria da França, uma mulher de quem pouco se sabe, que escrevia tais, versos sobre histórias de cavalaria já conhecidas ou que ainda corriam entre os contadores de história.
Seus versos intitulam-se Chèvre Feuille (A Madressilva). Esse conto, conhecido desde o ano 1000, é de origem puramente celta.
A história passa-se na Cornualha, onde Marco é rei, mas o magnetismo causado pelo nome de Arthur fez com que essa história se prendesse também ao corpo da lenda. Tristão não era famoso por sua habilidade como lutador, mas tinha grande agilidade física. Era também um harpista.
A história de Tristão é marcada por tragédias, dizia-se que ele nunca foi visto sorrindo, a começar por seu nascimento, onde seu pai é morto em batalha, perdendo o reino de Lionesse, e sua mãe morre no parto. Graças a estas tragédias, ele recebe o nome de Tristão. Criado por um cavaleiro como se fosse seu filho, Tristão desconhece sua origem e de seu parentesco com Marco, seu tio.
Ainda criança, Tristão mata por acidente um outro menino durante uma rixa. Levado para Bretanha a fim de ter uma educação de cavaleiro e um dia recuperar seu trono, Tristão acaba preso em um navio muçulmano, onde seria vendido por escravos, se não tivesse conseguido fugir, indo parar nas costas da Cornualha.
Durante muito tempo permanece na corte do rei Marco, sem revelar a este que era seu sobrinho, o que ocorre quando a Irlanda cobra um antigo tributo da Cornualha que, se não fosse pago, só poderia ser substituído pela luta entre dois campeões da família real da Irlanda e Cornualha. Tristão se oferece e parte para lutar contra Morolt, matando-o quando este prende a espada no casco do barco. Ferido pela espada envenenada de Morolt, Tristão é colocado em um barco sem remos com sua harpa para ser curado pela rainha da Irlanda. Durante sua permanência disfarçado, com o nome de Tãotris, acaba se apaixonando pela princesa Isolda, que cuidava dele. Mas Isolda acaba prometida a Marco e Tristão retorna à Irlanda para buscá-la.
Na viagem de volta, no entanto, eles bebem um filtro de amor que a criada de Isolda, Brangwen, havia preparado para a noite de núpcias da princesa, com isso uma paixão cega toma conta deles, de tal forma que, quando chegam a Cornualha, já são amantes. Começa então o mórbido, mas interessante relato do casamento de Isolda com o já desconfiado Marco e a continuação de sua aventura com Tristão.
Segue-se então a descoberta e a fuga de Tristão para a Britânia, onde se casa com uma princesa só porque seu nome também era Isolda (ISolda das Mãos Brancas), não podendo consumar o casamento. Quando está prestes a morrer de uma infecção causada por uma seta envenenada, Tristão manda uma mensagem, implorando que Isolda da Irlanda viesse até ele, e ordena que, no retorno do barco, deveriam estender velas brancas se a trouxessem e negras se ela não viesse.
Quando as velas brancas são vistas se aproximando, sua esposa Isolda diz que elas são negras. Angustiado Tristão morre, e Isolda chega, para morrer ao lado dele.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Templo das Estrelas de Glastonbury



O zodíaco de Glastonbury é um dos muitos reflexos do misterioso e visionário reino de Arthur, a sua localização exata e de seus domínios – na verdade, até sua existência – tem sido debatida por historiadores, arqueólogos e místicos. Idealista com seus bravos e em sua maioria leais cavaleiros, excalibur, sua rainha Guinevere, a linhagem sagrada e Avalon tornou-se profundamente arraigada na Bretanha, particularmente no sudoeste da Inglaterra. A memória coletiva do rei Arthur é tão imensa na Grã-Bretanha, que podemos dizer que o sábio e bondoso rei guerreiro ainda permanece como o herói mais venerado da ilha.
No verão de 1929, na vila de Somerset, em Glastonbury, katherine Maltwood recebera uma verba para trabalhar em uma nova versão da tradução de “Le Hault Livre du Graal” (A Nobre História do Santo Graal), um texto arcaico que descreve a vida do rei Arthur e seus cavaleiros. O manuscrito original, em latim, teria sido escrito na abadia de Glastonbury, antigamente considerada como a igreja mais sagrada da Inglaterra e do túmulo de Arthur. O propósito de Maltwood, ao visitar Glastonbury, era buscar indícios dos locais onde as histórias arturianas ocorreram, e usar essas referências para traçar um mapa.
Vagando pelos campos e ruínas, em Glastonbury e imediações, Maltwood teve certeza de reconhecer muitos dos lugares descritos em A Nobre História do Santo Graal. Mas foi também invadida por uma idéia: aquela paisagem ocultava algo, uma espécie de padrão que ela não conseguia decifrar. Maltwood prosseguiu seu trabalho, atormentada pela sensação de que, naqueles campos, havia uma característica indefinível que a desconcertava.
E então, em uma noite cálida e enluarada, ela se deteve no alto de uma colina, junto da vila, olhando para o local no qual, segundo a história, estaria o castelo do rei Arthur, em Cadbury Hill, uns 18 quilômetros a leste. No campo abaixo dela, Katherine vislumbrou algo parecido com duas gigantes efígies formadas na paisagem: uma era a de um leão e a outra a de uma criatura sentada, de aparência humana. As silhuetas eram sugeridas pela combinação de colinas, aterros, estradas, antigas marcas de fronteiras e canais naturais ou construídos. Mais tarde ela descreveu o que vira para uma pessoa conhecida, que por acaso era astróloga, para quem talvez as figuras representassem os signos de Leão e Gêmeos.
Maltwood subitamente percebeu que havia descoberto um antigo segredo encerrado na paisagem de Glastonbury.
Imediatamente ela encomendou mapas e fotografias aéreas, que lhe permitiram identificar um vasto círculo de imagens colossais, um anel de mais de 16 quilômetros de diâmetro, no qual ela visualizou exatamente os doze signos do zodíaco em ordem correta, de Áries a Peixes. Fora do círculo havia a décima terceira imagem, a de um imenso cão: Langport, o qual, segundo a cultura celta, vigia a entrada para Annwn, o secreto mundo das fadas.
Maltwood abdicou de sua carreira e dedicou o resto de sua vida ao estudo daquele zodíaco terrestre. Concluiu que o antigo povo de Somerset havia embelezado as formas e contornos daquela paisagem natural há cerca de 5 mil anos, para criar aquelas figuras zodiacais; e que, nos últimos séculos, os monges da abadia de Glastonbury haviam cuidadosa e secretamente preservado as marcas geográficas que davam forma àquelas gigantescas figuras.
Embora aparentemente ela não tenha chegado a saber disto, Katherine não foi a primeira pessoa a ver os gigantes celestiais estampados na paisagem de Somerset. Cerca de 350 anos antes dela, John Dee, um homem de muitos talentos que desempenhou papel importante nos campos da ciência, filosofia, matemática e alquimia, também fora arrebatado pelas incomuns marcas topográficas de Glastonbury; e também concluíra, tal como Katherine Maltwood mais tarde, que os doze signos do zodíaco haviam sido propositalmente estampados na paisagem por um povo antigo e sábio.
Durante um breve período, as opiniões de John Deen acerca das questões relacionadas às estrelas foram de considerável importância, pois ele funcionava como conselheiro astrológico da rainha Elizabeth I. “Assim, a astrologia e a astronomia são cuidadosamente unidas e medidas através de uma reconstrução científica dos céus, revelando-nos que os antigos compreendiam tudo que agora descobrimos ser verdade”.– escreveu Dee.
Contudo, para Maltwood, o zodíaco de Glastonbury assumia importância maior do que seu significado astrológico ou arqueológico. Acreditando que a existência das figuras explicava muitas referências encontradas nas antigas histórias sobre o rei Arthur, ela escreveu: “Foi em torno desses gigantes naturais e arcaicos que se acumularam as histórias arturianas.”
Ela via o zodíaco como a Távola Redonda original: Arthur era Sagitário; Sir Lancelot, Leão; Guinevere, Virgem; e Merlin, Capricórnio.
Segundo alguns pesquisadores, a Távola Redonda (Round Table) representava um símbolo cósmico do todo, com o Graal em seu centro místico e os doze cavaleiros representando os sígnos do zodíaco.
Em 1935, Maltwood publicou sua descoberta do zodíaco de Glastonbury sob o título “Um Guia para o Templo das Estrelas de Glastonbury”, o que causou grande alvoroço na Inglaterra.


Algumas pessoas sentiram-se tão seduzidas pelo fato dos símbolos mágicos e sagrados gravados na terra que resolveram ajudá-la em suas investigações. Maltwood faleceu em 1961; seu trabalho ainda contava com grandes entusiastas.
A comprovação histórica de outras monarquias místicas, tais como o fabuloso reino africano de Ofir, de onde, segundo a Bíblia, o rei Salomão extraía seu ouro, e o reino poderoso e piedoso do imperador e sacerdote cristão Preste João, na Ásia, também intriga os pesquisadores. Mas as histórias sobre esses reinos perdidos, bem como as de Arthur e sua corte real, perduram até os dias de hoje.
De todos os reinos, nenhum cativou a imaginação do mundo ocidental como o de Arthur, com a dadivosa terra de Camelot. Arthur pode ter vencido gigantes cruéis, mas foram suas batalhas contra a opressão que fizeram as pessoas ansiarem pela volta de um monarca como ele. Se o céu for inatingível por enquanto, então Camelot ocupará seu lugar.

domingo, 22 de julho de 2012

Os Duidas


Eles formavam a classe de sacerdotes entre os celtas, povo originário da Europa oriental que, no primeiro milênio a.C., se espalhou por quase todo o continente, até a Grã-Bretanha. "Os druidas eram considerados intermediários entre os homens e os deuses e atuavam também como juízes, magos e professores", afirma Pedro Paulo Funari, professor de História e Arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
"Como os celtas não deixaram obras escritas - apenas inscrições em objetos como taças e moedas - o que sabemos sobre eles vem de relatos dos romanos, surpresos com o fato de os druidas serem sacerdotes em tempo integral - pois em Roma essa função era acumulada por políticos, generais e magistrados", diz o historiador.
A principal fonte sobre os druidas é o próprio imperador Júlio César, que conta que eles tinham o privilégio de não pagar impostos e nem servir ao exército. Seus rituais incluíam sacrifícios humanos e, principalmente, o culto à natureza, toda ela considerada encantada por espíritos das árvores, bosques, lagos, fontes, cachoeiras e animais.
O druida (druid), na religião dos antigos povos celtas, especialmente os galos, era a pessoa que exercia as funções de sacerdote, poeta, juiz e legislador. Etimologicamente, a palavra druida deriva do galo dru-(u)id, que tinha o sentido de 'dono da ciência' ou 'muito sábio' entre os galos, povo pertencente ao tronco celta situado principalmente nos territórios das atuais, França, Bélgica e Luxemburgo a partir do ano 1000 a.C., aproximadamente.

O historiador romano Plínio o Velho, entretanto, relacionou etimologicamente a voz druida com o nome grego drãj 'carvalho', certamente pela importância que nos cultos religiosos druídicos tinham esta e outras árvores.Os druidas desempenhavam várias funções, eram sacerdotes, bardos, poetas e magos sem distinções como os historiadores gregos pensavam, inclusive Lucano.
O homem sábio que em muitas ocasiões se ocupava das questões religiosas desempenhava também o papel de conservar por tradição oral o patrimônio histórico, cultural e religioso ancestral, além de compor poemas satíricos em determinadas festas e celebrações.
Os druidas mais famosos da história, presentes em todas as sociedades celtas, foram os estabelecidos nas Galias e nas Ilhas Britânicas, onde eram os depositários de toda a tradição oral dos povos celtas.
Sua crença principal era a imortalidade do ser, visto que seus mortos continuavam vivendo em outro mundo, identificado como subterrâneo, onde o morto acompanhava seus deuses; os enterros celtas não eram diferentes. O corpo do morto era enterrado com todo tipo de objetos cotidianos, pois seu uso continuaria para sempre.

Apesar de sua elevada posição social, a estrutura social dos povos celtas fez com que participassem de todos os trabalhos da comunidade, tanto nos agrícolas como nas campanhas militares, embora sua principal ocupação era a educação dos jovens, a arbitragem nos litígios ocorridos entre as diversas tribos e a celebração dos diferentes ritos religiosos (especialmente os sacrifícios).
O hermetismo destes ritos, assim como seu caráter oral, fazia com que a capacidade mais admirada pelos druidas fosse sua memória, por isso seus sucessores na tribo deviam se destacar desde jovens nesse sentido, além de jurar honrar sempre aos deuses (o conhecimento era secreto), não obrar imprudentemente e estar sempre disponíveis para os serviços que demandasse a comunidade.
A vida cotidiana de um druida estava apoiada na estrita subserviência a estas regras e na observação da natureza, onde descobriram os usos medicinais; o respeito pelos bosques como lugares sagrados era outra de suas ocupações, para o qual contaram com o apoio da aristocracia militar das comunidades celtas.
São muito escassos os escritos sobre antigos galos, a maioria dos textos foi escrita em grego, embora alguns deles tenha relação direta com as atividades druídicas. Segundo estudiosos, os druidas não tinham livros sagrados, pois transmitiam sua doutrina e sua sabedoria de forma oral.
De acordo com registros, em 1971 foi encontrado um texto em doze linhas de uma oração a uma divindade desconhecida inscrita em uma prancha de chumbo na fonte de Chamalières, perto de Clermont-Ferrand (França). Em 1983, encontrou-se na aldeia do Veyssière (Aveyron, França), o chamado Chumbo do Larzak, de 57 linhas, inscrito uma mensagem para o outro mundo que devia levar até ali uma druidesa morta.

Muito importante também é o chamado Calendário de Coligny, encontrado no final do século XIX, gravado em uma prancha de bronze de quase um metro e meio de comprimento e 80 centímetros de largura, fonte da fé dos profundos conhecimentos astronômicos dos druidas galos.
Até o momento, tudo o que conhecemos sobre os cultos e as atividades druídicas, devemos aos historiadores gregos e, sobre tudo, latinos, cuja visão sabemos que às vezes estava muito deformada pela hostilidade entre o povo romano e o galo. Por outro lado, têm-se muitos mais dados a respeito dos druidas e, em geral, dos povos galos assentados na área continental que nas Ilhas Britânicas, já que o contato mantido pelos romanos com os galos foi muito mais contínuo e intenso.
Uma das mais importantes fontes históricas para o conhecimento das atividades druídicas é o tratado historiográfico De Belo Gallico 'Da guerra das Galias', de Júlio César, quem afirmou que os druidas constituíam uma espécie de casta de iniciados que deviam receber uma formação esotérica, muito rigorosa e prolongada, nas Ilhas Britânicas.
César também assinala que os druidas se encarregavam de presidir todos os sacrifícios públicos e privados, as atividades religiosas e, as que se estendiam as suas funções aos âmbitos político e judicial, já que eram eles os encarregados de impor sentenças e castigos judiciais.
Um druida era, segundo César, um homem considerado sábio, conhecedor dos segredos da astronomia, a geografia e da natureza, além dos religiosos, e que ostentava um prestígio máximo dentro de sua comunidade, o que lhe permitia estar isento de pagar tributos e de praticar o serviço militar.
Alguns dos dados contribuídos por César sobre o conteúdo da religião druídica são especialmente interessantes; por exemplo, quando afirma que "os druidas ensinam a doutrina segundo a qual a alma não morre, mas sim depois da morte passa de um a outro", em clara referência à doutrina da metempsicose ou transmigração das almas.
O sistema religioso galo druídico devia ser muito complexo e poderoso, já que o mesmo Suetônio o chamou "religião druida", é de nossa sabedoria que alguns de seus cultos exerceram grande fascinação e inclusive influíram e impregnaram em alguns cultos romanos. Entre as funções do druida, tinha em especial relevância à preparação e presidência de todos os sacrifícios.

O geógrafo grego Estrabão, nascido na Ásia Menor, estudou em Roma, viajou por diversos países e escreveu um tratado de Geografia em dezessete livros que chegou até nós praticamente na íntegra; afirmava que os druidas faziam sacrifícios humanos cujas vítimas eram homens consagrados, embora nenhum indivíduo pertencente à casta druídica podia ser sacrificado. Os sacrifícios humanos estavam estreitamente relacionados com a adivinhação.
Plínio o Velho, autor e naturalista clássico, escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas distribuído em 37 livros em 77 d.C., recordava que "terminados os preparativos necessários para o sacrifício e o banquete sob a árvore (um carvalho), levam ali dois touros brancos".
Sabe-se, além disso, que entre os conhecimentos transmitidos de forma oral e esotérica pelos druidas estavam os relativos à magia, ao uso de ervas, cabelos e águas medicinais e a determinação de dias fastos e nefastos, etc.
Este tipo de conhecimento druídico, afirmava alguns historiadores antigos, se relaciona também com as rituais pitagóricos gregos.
De acordo com estudiosos, a autoridade do druida estava muitas vezes acima da autoridade do rei, com o qual os sacerdotes druidas desempenhavam um papel importante, a primeira palavra era sempre a deles, e nas eleições, eram os druidas que regulamentavam e orientavam.
Sacerdotes druidas de maior prestígio podiam converter-se eles mesmos em reis. Sabe-se que o druida Mog Ruith foi chamado pelos galos do Munster, ofereceram-lhe grandes recompensas, mas Mog Ruith recusou a realeza.

O druida, além de desempenhar normalmente as funções de juiz penal e de juiz legislador, podia exercer também em muitas ocasiões o papel de árbitro de qualquer questão política ou conflito interno que tivesse lugar dentro da comunidade, e inclusive de mediador entre várias comunidades.


Em alguns lugares chegaram a fundar centros de culto druídico de especial relevância, como o santuário britânico de Anglesey, cuja destruição ocorreu no século I d.C. pelo exército romano, descreveu Tácito.
Existem notícias, embora muito escassas e confusas, a respeito da existência de druidesas (ou druidas femininas).

Há dados, por exemplo, de uma comunidade de sacerdotisas femininas que Pomponius Mela localizou em Sena, à beira do Mar Britânico: conforme parece, estava formada por nove sacerdotisas virgens especializadas em profetizar o futuro e realizar curas mágicas, mas também em provocar tempestades e em transformar pessoas em animais, ações deste tipo contribuíram para associarem as druidesas às bruxas.

É possível que ecos destes cultos druídicos femininos sobrevivessem, por exemplo, nos ritos realizados pelas monjas do monastério irlandês do Kildare, que mantinham um fogo perpétuo em honra da Santa Brígida, Santa cristã, continuação de uma antiga divindade indo-européia.
  
Os druidas combateram com feroz resistência à dominação romana da Gália, mesmo com a união de todas as tribos celtas, a vitória de Júlio César (52 a.C.) foi inevitável, e segundo estudiosos, eliminou a civilização celta.

A cultura e a religião druídica mantiveram quase plenamente sua vitalidade até que foram progressivamente marginalizadas e perseguidas.

O cristianismo fez todo o possível para erradicar qualquer tipo de culto religioso pagão, apesar de esquecer de erradicar também a sua influência, especialmente no terreno da religiosidade popular, pois muitas das crenças mágicas antigas ainda sobrevivem, modificando apenas os seus nomes.
  
Além disso, aceitou a continuidade da figura do antigo bardo ou poeta, que após, e durante boa parte da Idade Média, seguiu sendo o depositário da memória oral e do patrimônio poético dos povos de ascendência celta.

Fato é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana.

Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas atividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.

A partir do século XVI vieram à luz diversas correntes de pensamento religioso que tentaram restaurar as antigas crenças e ritos druídicos e opô-los à ortodoxia cristã dominante. Estas seitas neodruídicas têm um fundo ideológico apegado à magia natural e ao culto panteísta à natureza, e conta com comunidades como a Druid Order 'Ordem Druida', fundada em 1717, que se mantém viva até a atualidade.
  
Outros nomes deste tipo de seitas são os de Antiga Ordem dos Druidas, Confraternidade Filosófica dos Druidas, Ordem Druida, Fraternidade dos Druidas, Bardos e Poetas ou Igreja Celta Renovada.
Atualmente, esses tipos de movimentos religiosos se acham em pleno processo de expansão, devido à decepção de muitas pessoas diante das religiões tradicionais, à tendência ao retorno a formas de pensamento e de mística naturalista, e ao renovado auge do celtismo e de sua estética musical e cultural.